quarta-feira, junho 30, 2010

O encontro

Final: Parte IV

...ela fecha os olhos....

Ao toque a superfície parece extremamente rígida, intransponível. Ela pressiona a superfície, mas nada parece acontecer. Ok, estou, aqui, quero ver o outro lado. Quero ver o que está tão escondido assim. Mas as palavras não tem nenhum efeito sobre a parede a sua frente. A escuridão é quase total, mesmo com olhos abertos só é possível vislumbrar os contornos de seu braço e sua mão. TÁ EU ESTOU AQUI! O QUE MAIS PRECISA! Nada. Nada acontece. As lágrimas que a pouco haviam parado, voltam a correr por seu rosto. Ela cai de joelhos. Imagens sobre tantos momentos tristes passam por sua mente. Decepções, mágoas. Tudo é revivido por um momento. Pessoas que se foram, palavras que nunca foram ditas, palavras que nunca deveriam ter sido ditas. Tudo lhe vem a mente. Eu devia ter criticado menos. Devia ter sorrido mais. Devia ter dito não. Devia ter arriscado mais, largado tudo. Devia ser menos adulta, menos responsável. Devia ter dito mais o que sentia, talvez as coisas fossem diferentes. Queria ter passado mais tempo com algumas pessoas e menos com outras. Devia ouvir mais os conselhos que me são dados, e parar de dar tantos conselhos. Queria ter magoado menos, e não me deixar magoar tão facilmente. Será que vai passar? Será que vivi da maneira certa? Ficou ali sentada, sentindo muito frio, no escuro, pensamentos incessantes. Tantas dúvidas, tantas incertezas. Tantos momentos sendo relembrados. Tanta dor.

Após um longo período revivendo todas as sua mágoas, quando não haviam mais lágrimas para chorar. Ela entendeu. Eu sei o que está faltando. Levantou-se, deu dois passos para trás, e começou a despir-se. A cada peça de roupa que tirava de seu corpo, despia-se também de uma mágoa, de um rancor. Despia-se de suas dores, de seus pudores. Quando jogou a última peça de roupa na pilha ao lado, olhou-a. Por muito tempo vocês me acompanharam. Por algumas vezes me fizeram companhia, esconderam meus segredos, fizeram parte de mim. Mas agora preciso seguir em frente e de uma vez por todas deixa-las pra trás. Já sem lágrimas nos olhos, fechou os olhos, sabendo da escuridão a sua frente. Sentiu-se sozinha, um pouco triste, mas estava tudo bem. Respirou fundo. E andou de olhos fechados pra frente. Passou por alguma coisa muito fria, mas nem por isso parou ou olhou pra trás. Após alguns passos sentiu que o frio havia passado. Ainda andando abriu os olhos. Era uma sala branca, com uma janela ao fundo que mostrava um lindo jardim. Ao lado da janela uma pessoa estava sentada. Andou mais alguns passos afim de enxergar melhor a pessoa e a paisagem da janela. Então reconheceu aquele sorriso. Já o vira muitas vezes, mas agora ele estava diferente. Era um sorriso mais calmo, mais sereno. Haviam rugas no canto boca, mas também próximas ao olhos. Os cabelos acinzentados que caiam ao lado do rosto mostravam que muito tempo já havia se passado. As mãos não escondiam a idade. E o sorriso lhe convidava a sentar e conversar. Sentiu o coração acelerar, tinha tantas perguntas, mas sabia que tinham bastante tempo. Olhando para aquela imagem de si mesma, como um estranho espelho do futuro e soube que tudo ficaria bem.

Eu vou ficar bem.

Um comentário:

Gustavo Freitas disse...

Bah, gostei muito desse texto.

Fiquei um pouco apreensivo com a personagem, mas o final diz tudo.

Pesquei uma frase aqui:
"What lies behind us and what lies before us are tiny matters compared to what lies within us." -Ralph Waldo Emerson

beijos, flor.
gustavo