Bom segue um texto sobre o texto do Freud chamado o esquecimento dos nomes próprios... se tiverem paciência leiam.
Freud viaja de trem, conversa com alguém que é uma autoridade legal. No curso da conversa, esquece o nome do pintor Signorelli, que ele estava em vias de mencionar, autor dos afrescos na catedral de Orvietto cujo tema é o juízo final. Após o esquecimento, imediatamente dois nomes lhe vêm à mente: Botticelli e Boltraffio, mas em vão, eles não o reconduzem ao verdadeiro nome. Freud adota a atitude psicanalítica, então nascente (é o tempo do início de sua “auto-análise”), e recolhe suas associações. Surgem então duas novas palavras, Traffoi e Bósnia-Herzegóvina, ambas, como as duas anteriores, nomes próprios, no caso nome de lugares.
A explicação de Freud segue a via do que na ocasião ele entende por recalque. Freud não demarca bem a ordem do que se passa no nível das letras, do que se passa no campo do sentido, do que porta valor semântico. Sua explicação tende a privilegiar o sentido situado então como recalcado. Vale dizer, para cada nome que entra na cadeia de substituições, Freud pode detectar lembranças que situam perfeitamente os temas que o perturbam naquele momento de sua vida. Eis alguns deles: complicações com pacientes, em particular um suicídio, a derrocada de sua teoria da sedução, a questão da virilidade e da potência sexual etc. Ele, no entanto, não deixa de reconhecer o jogo literal, uma espécie de “automatismo”, concomitante ao esquecimento que se apresenta nas substituições. Em primeiro lugar, os nomes próprios são cindidos em suas sílabas constituintes, depois, uma transliteração, por via semântica, uma “tradução” de Signor do italiano pelo Herr do alemão. A terminação “elli” se conserva de Signorelli a Botticelli. Um “bo” se repete ao longo de Botticelli, Boltraffio e Bósnia. Os nomes se decompõem em unidades portadoras de sentido, “Herr”, “Signor”, “Traffoi”, e em unidades que se conservam nas substituições compondo os nomes que se sucedem — é o caso de “elli” e “bo” (Lacan assinala sobretudo o “o”). Finalmente, o fato, anotado por Freud, de que o esquecimento do nome próprio gera uma espécie de fechamento, isto é, uma “compulsão” a lembrar que traz como resultado outros nomes próprios que se compõem através da rearticulação das sílabas e dos segmentos isolados, que, inclusive, são em número finito. Vale dizer, as substituições respeitam a função discursiva da palavra esquecida, que é a do nome próprio: se um nome próprio é esquecido, esse esquecimento aciona uma série associativa de outros nomes próprios até o nome esquecido ser recuperado.
O entendimento de Freud naquele momento é o de explicar esse jogo literal pelo exterior, isto é, ele é motivado pela temática, pela semântica em jogo na conversa com seu companheiro de viagem. Na “superfície”, as piadas, que podem ser colocadas numa conversação ligeira, dessas que ocorrem numa viagem. Na “profundidade”, essas piadas estão na porta de entrada de questões relativas à sexualidade e à morte tal como elas se apresentam no concreto da vida de Freud, e que devem ser evitadas numa conversação ligeira. Lacan observa que, nesse nível, não há recalcado algum. Há coisas que têm de passar por fora, por fora da zona do dito, mas tais coisas não são propriamente recalcadas, elas são evitadas, não devem comparecer à mesa. No entanto, é nessa “superfície intersubjetiva”, para usar o termo de Lacan na ocasião, que se opera a escolha mais ou menos consciente entre o que deve ser dito e o que deve ser evitado. É nessa superfície, marcada pela contingência e pela facticidade, que fará irrupção o recalcado, mas o recalcado não como um conteúdo semântico, mas como uma formação literal irruptiva, isto é, como uma formação linguageira, articulável por uma combinatória de letras que se desdobra à revelia do sujeito, mas que, no entanto, cifra em torno do que gira sua questão fundamental – seu nome próprio, lugar de inscrição de seu desejo enquanto desejo alienado, enquanto desejo do Outro, inscrito no campo do Outro. Vejamos esse ponto.
Em primeiro lugar, o que temos fora do campo do sentido? Temos o não-sentido marcado pela palavra “esquecimento”, a incidência de um buraco, de algo que se coloca como falta, ou, melhor ainda, perda – o nome próprio que se perdeu. A seguir temos os nomes substitutos. Mas, do ponto de vista do regime do inconsciente, do jogo literal que se arma, temos que inverter a temporalidade e situar as coisas na sincronia, isto é, o esquecimento não é anterior à cadeia substitutiva, ele só se põe como esquecimento na sincronia com a cadeia. Por isso Lacan falará em metáfora, vale dizer, o esquecimento, antes de ser um fato negativo a ser eliminado pelo esforço lançado na tarefa substitutiva, é sustentado como tal, como buraco, como presença da perda, ele é “criado”, justamente no desdobramento da cadeia, no prosseguimento da cadeia. Isto é, a cada nome que se coloca na seqüência, o sujeito fará a prova daquilo que se perdeu, perda esta que traz o traço, aí sim recalcado, posto que esse nome não é aí evitado intencionalmente, ele não aparece como significação. Mas, por efeito do automatismo literal, o nome próprio é indicado, daí Lacan dizer que o esquecimento é um mecanismo de memória, por não se dizer, por se furtar, por se apagar – essa é uma propriedade intrínseca do nome próprio: poder ser perdido.
Em segundo lugar, também fora do campo do sentido, Freud notava que, à medida que a cadeia substitutiva prosseguia, lhe vinha à mente com muita nitidez (uma experiência que me pareceu próxima a uma imagem onírica) a imagem de Signorelli. Este pintor “assinara” com seu próprio auto-retrato o afresco por ele pintado no canto específico do quadro próprio à assinatura do autor. Lacan situa aí o tema do olhar. “O quadro é quem olha aquele que cai em seu campo; que o pintor é aquele que, do Outro, lhe faz cair o olhar”, diz Lacan. E o que Freud vê nessa figura? Ele vê “a figura projetada diante dele, dele que não sabe mais de onde se vê, o ponto de onde ele se olha”.
Lacan finaliza a lição da seguinte maneira: temos aí, no esquecimento do nome Signorelli, “a aparição desse ponto de emergência no mundo, desse ponto de surgimento por onde isso que não pode, na linguagem, se traduzir senão pela falta, vem ao ser”. Vale dizer, a incompletude articulada pelo jogo literal, indicada pelo nome próprio que se furta na articulação substitutiva, marca o ponto de incidência do olhar que constitui o sujeito em sua alienação fundamental ao significante.
5 comentários:
Arrrrghhh Matey!
Beeem, assim, n vem com essa história de "associar nomes" q meu nome não é facinho de confundir com joão do caminhão! ok?
Bjs!;)
Ademais o fato do autor se utilizar da linguagem pra esconder uma certa falta de objetivo no texto, concordo com grande parte do que foi explanado.
Porem achei esse artificio com a linguagem pouco costumeira, infantil, tentando dar mais conteúdo ao que pode ser explicado de forma muito mais simples, a gramatica não deveria ser usada como barreira.
Pelo menos essa é a minha humilde opinião, seja qual for o autor.
Até mais ver, uma boa sorte a todos leitores.
Tá, ok
eu realmente pretendo ler esse texto e tudo o mais.
mas antes:
tu não tem addsense no blog?
OMG
tipo ahhh
sorry
não deu para ler tudo.
tah, eae, não atualizar a birosca não??
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